Introdução
“É fundamental para nós cristãos
entender bem o valor e o significado da Santa Missa para viver cada vez melhor
a nossa relação com Deus”, dizia o Papa Francisco na sua catequese sobre
a Santa Missa.
As primeiras comunidades cristãs enfrentaram perseguições e
martírio mas mesmo assim não dispensavam a celebração do Domingo e da
Eucaristia. Para estas comunidades a Eucaristia era um alimento de vida eterna,
mesmo colocando em risco a própria vida, e em muitos casos dando mesmo a vida
por ela, não deixavam de celebrar a Eucaristia.
Actualmente na nossa sociedade existe o perigo de nos
esquecermos de Deus, em muitos casos vive-se como se Deus não existisse e não
se vê a necessidade de participar na Santa Missa.
Em muitos casos a Santa Missa é considerada como uma ceia ou
repetição da Última Ceia em que na oração Eucarística o sacerdote faz a
descrição do que se passou na Última Ceia e o pão e o vinho simbolizam o Corpo
e o Sangue que se tornam alimento espiritual. Esta forma de ver a Santa Missa
reduz muito o seu significado e valor, encontrando-se bastante longe do sentido
que lhes davam as primeiras comunidades cristãs.
As primeiras comunidades cristãs viam a Eucaristia como
alimento de vida eterna e o encontro com Cristo e o anúncio do Evangelho era um
encontro e anúncio da Verdade revelada por Deus. O horizonte das suas vidas era
o Céu.
Na consideração da Santa Missa ser apenas uma ceia o
alimento reduz-se a um alimento que nos ajuda para a nossa vida terrena e Deus
apenas a um complemento e melhoramento da nossa vida. O horizonte das nossas
vidas é apenas a Terra.
O testemunho das primeiras comunidades diz o Papa Francisco:
“é um testemunho que nos interpela a todos e pede de
nós uma resposta sobre o que significa para cada um de nós participar do
Sacrifício da Missa e aproximar-se da Mesa do Senhor.
Estamos à procura da fonte que
"jorra água viva" para a vida eterna? Que faz da nossa vida um
sacrifício espiritual de louvor e acção de graças e nos torna um só Corpo com
Cristo?”.
E resume assim o Papa Francisco o que é participar na Santa
Missa: “Participar na Missa é viver novamente a paixão
e a morte redentora do Senhor. É uma teofania: o Senhor torna-se presente no
Altar para ser oferecido ao Pai pela salvação do mundo. O Senhor está ali
connosco, presente.”. É esta participação e significado que vamos tentar
compreender melhor.
Começamos por recordar o que dizia o Papa São João Paulo II
em 2003: “Não faltam sombras, infelizmente… às vezes
transparece uma compreensão muito redutiva do mistério eucarístico. Despojado
do seu valor sacrificial, é vivido como se em nada ultrapassasse o sentido e o
valor de um encontro fraterno ao redor da mesa. Além disso, a necessidade do
sacerdócio ministerial, que assenta na sucessão apostólica, fica às vezes
obscurecida, e a sacramentalidade da Eucaristia é reduzida à simples eficácia
do anúncio… como não manifestar profunda mágoa por tudo isto? A Eucaristia é um
dom demasiado grande para suportar ambiguidades e reduções.”
Aqui o Santo Padre lamenta o esquecimento do valor
sacrificial ficando apenas pelo encontro fraterno ao redor da mesa, o que leva
a se poder deixar de ver a necessidade do sacerdócio e do que significa
realmente a Eucaristia.
Vamos ver agora qual é o significado da Santa Missa e o que
significa o valor sacrificial de que fala o Santo Padre.
O Beato Papa Paulo VI explicava solenemente assim a Santa
Missa: “Cremos que a Missa, celebrada pelo sacerdote,
que representa a pessoa de Cristo, em virtude do poder recebido no sacramento
da Ordem, e oferecida por ele em nome de Cristo e dos membros do seu Corpo
Místico, é realmente o Sacrifício do Calvário, que se torna sacramentalmente
presente em nossos altares. Cremos que, como o Pão e o Vinho consagrados pelo
Senhor, na última ceia, se converteram no seu Corpo e Sangue, que logo iam ser
oferecidos por nós na Cruz; assim também o Pão e o Vinho consagrados pelo
sacerdote se convertem no Corpo e Sangue de Cristo que assiste gloriosamente no
céu. Cremos ainda que a misteriosa presença do Senhor, debaixo daquelas
espécies que continuam aparecendo aos nossos sentidos do mesmo modo que antes,
é uma presença verdadeira, real e substancial.”.
Vejamos o que disse Nosso Senhor aos Apóstolos: “Tomai todos e comei, este é o meu Corpo que será entregue por
vós” e “Tomai todos e bebei, este é o Cálice do
meu Sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por muitos
para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de Mim”.
·
A memória que Nosso Senhor pediu para fazermos é
o Seu Corpo entregue e o Seu Sangue derramado por nós para remissão dos
pecados, isto é, o Seu Sacrifício.
·
No Altar em todas as missas está Nosso Senhor na
Cruz oferecendo o Seu Sacrifício a Deus Pai para a nossa salvação e
santificação.
O testamento que Nosso Senhor nos deixou é o Seu
Sacrifício, é o Seu Sangue, é a Sua Cruz e esse é o fermento de toda a
civilização cristã e o alimento de todos os que partiram para o Céu.
o
Guardemos o testamento de Nosso Senhor Jesus
Cristo
Na Santa Missa estamos no Calvário, com Jesus na Cruz, com
Maria nossa Mãe a seu lado, e João aos pés da Cruz, e os anjos em adoração.
O Sacrifício da Missa é substancialmente o mesmo que o da
Cruz, porque o mesmo Jesus Cristo, que se ofereceu sobre a Cruz, é que se
oferece pelas mãos dos sacerdotes, seus ministros, sobre os nossos altares.
Na Santa Missa os frutos do Sacrifício da Cruz são aplicados
nas almas dos fiéis. E é a Igreja Católica, pelo ministério dos seus sacerdotes,
que oferece até ao fim dos tempos, em todos os lugares, o Sacrifício da Cruz,
perpetuado pelo santo Sacrifício da Missa.
Redenção e salvação
A nossa redenção aconteceu na Sexta-Feira Santa quando Nosso
Senhor na Cruz ofereceu a Deus o Seu Sacrifício, levando os pecados da
humanidade que estava separada de Deus e reconciliou-nos com Deus. Os frutos e
aceitação dessa redenção recebemos no baptismo, nesse momento recebemos a graça
santificante de Deus.
A salvação é a oferta que Deus faz a cada um, para seguindo
o caminho ensinado por Nosso Senhor e aceitando a revelação divina possamos um
dia chegar junto de Deus no Céu.
A aceitação da oferta da salvação pede que nós a trabalhemos
cooperando com a graça de Deus, pois com o pecado diminuímos ou retiramos de nós
a graça santificante, conforme é venial ou mortal. Por isso é importante o
sacramento da reconciliação para recuperarmos a graça de Deus e continuarmos no
caminho da salvação.
O caminho é sobretudo sermos como Cristo, como indica São
Pedro na sua primeira carta: “De ânimo preparado para
servir e vivendo com sobriedade, ponde a vossa esperança na dádiva que vos vai
ser concedida com a manifestação de Jesus Cristo. Como filhos obedientes, não
vos conformeis com os antigos desejos do tempo da vossa ignorância; mas, assim
como é santo aquele que vos chamou, sede santos, vós também, em todo o vosso
proceder, conforme diz a Escritura: Sede santos, porque Eu sou santo.
E, se invocais como Pai aquele que,
sem parcialidade, julga cada um consoante as suas obras, comportai-vos com
temor durante o tempo da vossa peregrinação; sabendo que fostes resgatados da
vossa vã maneira de viver herdada dos vossos pais, não a preço de bens
corruptíveis, prata ou ouro, mas pelo sangue precioso de Cristo, qual cordeiro
sem defeito nem mancha; vós, que por meio dele tendes a fé em Deus, que o
ressuscitou dos mortos e o glorificou, a fim de que a vossa fé e a vossa
esperança estejam postas em Deus.”
Assim, o nosso Divino Salvador na Sua imensa generosidade
deu-nos a Eucaristia para que recebendo-O, em Corpo e Alma, nos ajude a
percorrer esse caminho, cresçamos em santidade, virtudes cristãs e nos
fortaleça para que dia a dia tentemos nos assemelhar a Cristo.
Indica assim São Pedro na sua primeira carta: “Aproximando-vos dele, pedra viva, rejeitada pelos homens, mas
escolhida e preciosa aos olhos de Deus, também vós - como pedras vivas -
entrais na construção de um edifício espiritual, em função de um sacerdócio
santo, cujo fim é oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus, por Jesus
Cristo.”.
Porque é que na Santa Missa se torna presente o Sacrifício da Cruz oferecido a Deus
Vejamos a parte final da oração de São Francisco de Assis:
Ó Mestre, fazei que eu procure mais:consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe.
É perdoando que se é perdoado.
E é morrendo que se vive para a vida eterna.
É esta a lógica da Caridade: dai e recebereis. Da mesma
forma, para recebermos de Deus as Suas graças devemos nos oferecer a Deus.
Por isso a Santa Missa é sobretudo sobre Deus e sobre o que
Deus fez por nós. Não é sobre nós nem sobre a comunidade. Esquecermo-nos de
Deus é o maior perigo do nosso Tempo.
O que acontece a cada um de nós e com a comunidade é o resultado
da nossa oferta a Deus. Da mesma forma que quem para encher um recipiente de
água concentra-se a abrir a torneira e colocar o recipiente de modo a poder
receber a água também na Santa Missa nos devemos concentrar em Deus que é a
fonte e em colocar a alma pronta a receber as graças divinas.
Desta forma, a Santa Missa é oferecida a Deus para 4 fins:
·
Adoração e louvor -> disse Nosso Senhor: “Mas chega a hora em
que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois
são assim os adoradores que o Pai pretende. Deus é espírito; por isso, os que o
adoram devem adorá-lo em espírito e verdade.”, como ensina Nosso Senhor
devemos adorar Deus e essa adoração faz-se na alma que se une a Deus e na Fé
que adere à Verdade revelada por Deus. E assim como o Amor a Deus além de ser o
maior mandamento é a fonte de todo o amor, por isso a adoração e louvor é o
primeiro acto que devemos ter para com Deus como quem se encaminha para a fonte.
·
Acção de graças -> em agradecimento em
primeiro lugar pela salvação e por Nosso Senhor Jesus Cristo, Cordeiro de Deus.
De seguida por todas as graças que recebemos de Deus.
·
Reparação dos pecados -> para pedirmos perdão
pelos nossos pecados e ajuda para não tornar a pecar.
·
Súplica e petição -> para pedirmos as graças
de Deus, pelas nossas intenções e para pedirmos a Deus que receba aqueles que
já partiram deste mundo, dando-lhes o alívio e purificação que possam
necessitar.
Quando Nosso Senhor ensinou aos discípulos a oração do
Pai-Nosso não indicou apenas o que rezar indicou também como o fazer: “quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a
porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê o oculto, há-de
recompensar-te.”. E qual é o quarto mais secreto que temos? É a alma. É
na alma que começa essa oração em segredo a Deus, na alma que se oferece e
entrega a Deus.
Na oração do Pai-Nosso também encontramos os mesmos 4 fins
da Santa Missa em oferta a Deus:
·
Adoração, louvor e acção de graças -> santificado
seja o vosso nome, venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim
na terra como no céu.
·
Reparação dos pecados -> perdoai-nos as
nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido
·
Súplica e petição -> O pão nosso de cada dia
nos dai hoje, e não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal.
Assim, este oferecimento na Santa Missa está conforme a
forma de rezar que Nosso Senhor nos ensinou. E este oferecimento tem um valor infinito
porque quem oferece não somos nós, é Cristo no Seu Sacrifício. O limite que
pode ter depende de nós próprios e de quanto nos conseguimos unir neste
oferecimento.
Nós devemos unir-nos e entregar-nos neste mesmo Sacrifício,
levando a nossa cruz e intenções para Por Cristo, com Cristo e em Cristo
oferecermos a Deus Pai todo-poderoso na unidade do Espírito Santo toda a honra
e toda a glória agora e para sempre.
Meditemos um pouco
neste magnífico dom do nosso Divino Salvador:
Em vez de estarmos apenas numa Ceia temos Nosso Senhor que
vem do Céu até ao Altar, torna presente o Seu Sacrifício da Cruz para dele
recebermos os Seus méritos. Nesse Sacrifício os Anjos levam até Deus as nossas
ofertas, intenções e orações, as almas do purgatório recebem os alívios e
purificações que necessitam e Deus infunde em nós a Sua Graça santificante. Ainda
no Altar Nosso Senhor torna-se presente em Corpo e Alma na Hóstia Sagrada e no
Cálice para comungarmos e nos unirmos a Ele e assim, crescendo na nossa
santificação vamo-nos tornando semelhantes a Cristo e templos dignos de Deus.
Em cada Santa Missa temos o Céu e a Terra unidos!
Temos assim a resposta à questão: Porque é que na Santa Missa se torna presente o Sacrifício da Cruz
oferecido a Deus? Para nos ajudar a percorrer o caminho de salvação. É
oferecendo a Deus que recebemos de Deus as suas graças. O oferecimento da Santa
Missa tem infinito valor porque quem oferece é Nosso Senhor e é desse
Sacrifício da Cruz que recebemos os méritos da redenção e salvação.
A presença real de Nosso Senhor na Eucaristia
Como vimos a comunhão da Eucaristia é alimento que nos ajuda
a crescer na graça e santificação e fortalece para percorrer o caminho da
santificação. A presença de Nosso Senhor é real em corpo e alma na Hóstia
Sagrada e no Cálice.
No Evangelho de São João no fim do milagre da multiplicação
dos pães acontece a seguinte situação: “Aquela gente,
ao ver o sinal milagroso que Jesus tinha feito, dizia: «Este é realmente o
Profeta que devia vir ao mundo!» Por isso, Jesus, sabendo que viriam
arrebatá-lo para o fazerem rei, retirou-se de novo, sozinho, para o monte.”
A multidão foi novamente ter com Jesus e Jesus repreendeu-os
com estas palavras: “Em verdade, em verdade vos digo:
vós procurais-me, não por terdes visto sinais miraculosos, mas porque comestes
dos pães e vos saciastes. Trabalhai, não pelo alimento que desaparece, mas pelo
alimento que perdura e dá a vida eterna, e que o Filho do Homem vos dará; pois
a este é que Deus, o Pai, confirma com o seu selo. Disseram-lhe, então: «Que
havemos nós de fazer para realizar as obras de Deus?» Jesus respondeu-lhes: «A
obra de Deus é esta: crer naquele que Ele enviou.». Todos os que o Pai me dá virão a mim; e quem vier a mim Eu
não o rejeitarei”.
Vemos neste momento que a multidão saciada pela
multiplicação dos pães vê Jesus como um rei que lhes resolveria as necessidades
na Terra mas Jesus repreende-os e ensina a importância de acreditarmos Nele e
procurarmos a vida eterna.
Desta forma ensina Jesus qual é o verdadeiro alimento,
aquele que devemos procurar: “Disse-lhes Jesus: «Em
verdade, em verdade vos digo: se não comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e
não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem realmente come a
minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no
último dia, porque a minha carne é uma verdadeira comida e o meu sangue, uma
verdadeira bebida. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue fica a
morar em mim e Eu nele. Assim como o Pai que me enviou vive e Eu vivo pelo Pai,
também quem de verdade me come viverá por mim. Este é o pão que desceu do Céu;
não é como aquele que os antepassados comeram, pois eles morreram; quem come
mesmo deste pão viverá eternamente.”
Ao escutar estas palavras de carne e sangue como alimento
muitos escandalizaram-se: “Então, os judeus, exaltados,
puseram-se a discutir entre si, dizendo: «Como pode Ele dar-nos a sua carne a
comer?!». Depois de o ouvirem, muitos dos seus discípulos disseram: «Que
palavras insuportáveis! Quem pode entender isto?» A partir daí, muitos dos seus
discípulos voltaram para trás e já não andavam com Ele.”
Aqui aprendemos duas coisas muito importantes:
A primeira é que o alimento não é apenas alimento espiritual
para ajudar a vida nesta Terra. É sobretudo alimento de salvação e
santificação. Para alcançarmos e percorrermos o caminho de salvação que Deus
nos oferece.
A segunda é a afirmação de que nesse alimento está presente
Nosso Senhor em corpo e alma, presença real: Corpo e Sangue. Reparamos que
muitos se escandalizaram por acharem impossível como nos pode dar de comer o
Seu Corpo e o Seu Sangue. E vendo que muitos se afastavam Jesus não os
esclareceu indicando que seria apenas uma forma simbólica. Apenas pergunta aos
Doze Apóstolos: “Também vós quereis ir embora?”.
Disse neste momento também Nosso Senhor: “Por isso é que Eu vos declarei que ninguém pode vir a mim, se
isso não lhe for concedido pelo Pai.”.
Peçamos a Deus a Graça de conseguir acreditar e ver Nosso
Senhor presente realmente na Hóstia Sagrada e receber este alimento com a
intenção de nos ajudar a percorrer o caminho de salvação que Deus nos oferece.
A união do Céu e da Terra e as partes da Santa Missa
Cristo é eterno Rei, respondeu assim Jesus a Pilatos: “É como dizes: Eu sou rei! Para isto nasci, para isto vim ao
mundo: para dar testemunho da Verdade. Todo aquele que vive da Verdade escuta a
minha voz.”
E Cristo é eterno Sacerdote, como indica São Paulo: “Assim também Cristo não se atribuiu a glória de se tornar
Sumo Sacerdote, mas concedeu-lha aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Eu hoje
te gerei. E, como diz noutro passo: Tu és sacerdote para sempre, segundo a
ordem de Melquisedec.”. Os sacerdotes recebem o sacerdócio como
participação do sacerdócio eterno de Cristo. E como Cristo se sacrificam para a
santificação e salvação das almas.
Pergunta o Bispo ao ordenar o sacerdote: “Quereis celebrar com fé e piedade os mistérios de Cristo,
segundo a tradição da Igreja, para louvor de Deus e santificação do povo cristão,
principalmente no sacrifício da Eucaristia e no sacramento da reconciliação?”
e “Quereis
unir-vos cada vez
mais a Cristo,
Sumo Sacerdote, que por nós Se
ofereceu ao Pai como vítima santa, e com Ele consagrar-vos a Deus para salvação
dos homens?”. E é com o sim a estas questões que o sacerdote como um
outro Cristo à semelhança do Divino Meste se torna uma Hóstia imolada para a
glória de Deus e consagrada para a salvação das almas.
Na Santa Missa o sacerdote está ao serviço de Cristo a
oferecer o Santo Sacrifício para a nossa santificação e salvação. Todos os dias
tem Deus nas mãos e nós devemos ver o sacerdote como outro Cristo.
Confissão
-> nós vamos iniciar o caminho até ao Calvário, vamos nos oferecer a Deus
junto com Nosso Senhor que é o Cordeiro de Deus. Este é puro e sem mancha,
também nós devemos nos purificar dos pecados e prepararmo-nos para celebrar os
sagrados mistérios. Recordemos as palavras de Nosso Senhor e de quanto é
importante essa união: “Vinde a mim, todos os que estais
cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso
para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.”.
Purifiquemo-nos e vamos confiantes com Nosso Senhor no caminho do Calvário.
Escuta da Palavra
-> Na escuta da Palavra é a Palavra de Deus que escutamos. Mas será que O
ouvimos? Recordemos o episódio dos discípulos de Emaús: “E, quando se pôs à mesa, tomou o pão, pronunciou a bênção e,
depois de o partir, entregou-lho. Então, os seus olhos abriram-se e
reconheceram-no; mas Ele desapareceu da sua presença. Disseram, então, um ao
outro: «Não nos ardia o coração, quando Ele nos falava pelo caminho e nos
explicava as Escrituras?»”. Vemos que os discípulos quando Nosso Senhor
lhes explicava as Escrituras sentiam o coração a arder mas não O reconheciam,
só O reconheceram na Eucaristia. Assim vemos o quanto é importante enquanto
escutamos a Palavra de Deus a escutarmos como quem vai a caminho de O encontrar
na Eucaristia. Pensemos: Nosso Senhor vai estar presente no Altar, Ele é o
Verbo de Deus, por isso é Ele que vou escutar ao ouvir a Palavra.
De salientar também a indicação «mas Ele desapareceu da sua presença», o reconhecimento que fizeram
não foi apenas na presença física ou nos gestos, foi também na presença real de
Nosso Senhor no pão.
Ofertório: apresentação do
pão e do vinho -> é a oferta de Cristo vitima a Deus e de
nós próprios em união a Cristo, neste momento também nos devemos oferecer. À
Santíssima Trindade é pedido que aceite este Sacrifício para que dele recebamos
os frutos que nos ajudam no caminho da salvação.
No ofertório, orai irmãos
para que o meu e vosso sacrifício seja aceite por Deus Pai todo-poderoso.
Receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício, para honra e glória do Seu nome,
para nosso bem e de toda a santa Igreja -> Aqui o sacerdote
lembra-nos para nos unirmos ao Sacrifício e vemos que o Sacrifício é o ponto
central da Santa Missa.
As palavras da consagração,
Tomai todos…fazei isto em memória de Mim -> Estas palavras
no missal estão impressas de forma destacada e são ditas pelo sacerdote de
forma ligeiramente diferente em tempo e entoação. O sacerdote na Santa Missa
está ao serviço de Cristo, entrega todo o seu ser ao serviço de Cristo. Cristo
é o sacerdote e o sacerdote é instrumento de Cristo, por isso neste momento é
Cristo que ouvimos falar e realizar o Seu Sacrifício. Tentemos neste momento
escutar Cristo no Altar.
Anunciamos, Senhor, a vossa
morte, proclamamos a vossa ressurreição. Vinde Senhor Jesus
-> a aclamação que fazermos «vinde Senhor Jesus» refere-se à segunda vinda
de Cristo no fim dos tempos, como diz São Paulo: “Porque,
todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, anunciais a
morte do Senhor, até que Ele venha.”.
Por Cristo, com Cristo e em
Cristo, a Vós Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda a
honra e toda a glória agora e para sempre -> como vimos
anteriormente a oferta que fazemos a Deus é feita no Santo Sacrifício. É Cristo
que oferece e nós oferecemos incorporados em Cristo e no Seu Sacrifício. E
damos a Deus toda a honra e toda a glória porque é Cristo quem oferece,
conseguindo oferecer um valor infinito.
Saudai-vos na paz de Cristo
-> a paz de Cristo que desejamos uns aos outros não somos nós quem a dá. A
paz vem do Cordeiro de Deus que está nesse momento no Altar. Ao nos saudarmos
na paz de Cristo não estamos a fazer um gesto de convívio ou fraternidade, estamos
a transmitir as seguintes palavras de Nosso Senhor: “Deixo-vos
a paz; dou-vos a minha paz. Não é como a dá o mundo, que Eu vo-la dou. Não se
perturbe o vosso coração nem se acobarde. Ouvistes o que Eu vos disse: ‘Eu vou,
mas voltarei a vós.’ Se me tivésseis amor, havíeis de alegrar-vos por Eu ir
para o Pai, pois o Pai é mais do que Eu. Digo-vo-lo agora, antes que aconteça,
para crerdes quando isso acontecer.”.
Felizes os convidados para a
Ceia do Senhor -> a Ceia do Senhor a que se refere não é apenas
o momento de comunhão que vamos fazer na Santa Missa, refere-se sobretudo à
alegria da Esperança de um dia no Céu estarmos junto de Deus e aí celebrarmos a
Ceia do Cordeiro de Deus.
Ide em paz e o Senhor vos
acompanhe -> refere-se ao mandato de Nosso Senhor: “Ide, pois, fazei discípulos de todos os povos, baptizando-os
em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a cumprir tudo
quanto vos tenho mandado. E sabei que Eu estarei sempre convosco até ao fim dos
tempos.”
O Concílio Vaticano II
Como vimos anteriormente o Papa
Beato Paulo VI declarou solenemente o que é a Santa Missa: A Santa Missa é realmente o Sacrifício do Calvário, que se torna
sacramentalmente presente no Altar, o sacerdote representa Cristo e a presença
de Cristo na Hóstia Sagrada e no Cálice é uma presença verdadeira, real e
substancial.
Vamos ver agora o que o Concílio
nos pede e indica em relação à nossa participação na Santa Missa: “A Igreja procura, solícita e cuidadosa, que os cristãos não
entrem neste mistério de fé como estranhos ou espectadores mudos, mas
participem na acção sagrada, consciente, activa e piedosamente, por meio duma
boa compreensão dos ritos e orações; sejam instruídos pela palavra de Deus;
alimentem-se à mesa do Corpo do Senhor; deem graças a Deus; aprendam a
oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote, que não só
pelas mãos dele, a hóstia imaculada; que, dia após dia, por Cristo mediador,
progridam na unidade com Deus e entre si, para que finalmente Deus seja tudo em
todos.”
“Para
fomentar a participação activa, promovam-se as aclamações dos fiéis, as
respostas, a salmodia, as antífonas, os cânticos, bem como as acções, gestos e
atitudes corporais. Não deve deixar de observar-se, a seu tempo, um silêncio
sagrado.”.
Vamos ver por partes o que podemos aprender.
Uma participação consciente
-> é saber onde estamos e o que estamos a fazer. Estamos na casa de Deus, no
Altar torna-se presente o Sacrifício da Cruz oferecido a Deus e é a esse
Sacrifício que nos devemos unir em entrega a Deus.
Uma participação activa
-> implica uma participação que parte da alma unida a Deus e que se reflecte
nos gestos, posições, cânticos, orações e silêncios.
Uma participação piedosa
-> a piedade é um dom do Espírito Santo que proporciona à alma o
relacionamento filial e profundo com Deus, mediante a oração e as práticas
piedosas ensinadas pela Igreja. É o dom da devoção, do fervor, da experiência
de viver em comunhão permanente com Deus. Está também relacionado com outro dom
do Espírito Santo que é o temor de Deus, este não é medo de Deus é antes o sentido
de não querer que Ele seja desprezado e deixado de lado, nem pelos outros, nem
por nós mesmos. É o santo temor de que Deus seja ofendido, e ao mesmo tempo, é
o sadio temor das consequências do afastamento de Deus, este ajuda-nos a evitar
tudo o que nos afasta de Deus, ou seja, o pecado.
Sejam instruídos pela Palavra
de Deus -> aqui é referida a importância de não apenas ouvir
a Palavra de Deus mas também aprender, sermos instruídos pela Palavra, ou seja,
o que escutamos é o que Deus nos pede e ensina e que devemos colocar em
prática.
Alimentem-se à mesa do Corpo
do Senhor -> aqui é indicado para comungarmos
frequentemente, não como um simples alimento mas com o reconhecimento que é o
Corpo do Senhor que recebemos.
Deem graças a Deus e aprendam
a oferecer-se a si mesmos, ao oferecer juntamente com o sacerdote a hóstia
imaculada -> aqui é indicado a importância de cada um de nós
se oferecer também em união ao Santo Sacrifício do Altar numa atitude de acção
de graças a Deus por tudo o que fez e faz por nós.
Dia após dia por Cristo
mediador progridam na unidade com Deus e entre si -> neste
ponto é salientado o objectivo principal da comunhão, este é irmo-nos tornando
semelhantes a Cristo e como Ele e o Pai são um só também nós sermos um com o
Pai e a partir desta união de cada um de nós com Deus é realizada a união e comunhão
entre os membros da comunidade.
Participação activa
observando-se a seu tempo um silêncio sagrado -> neste ponto
é referida a importância da participação ter momentos de exteriorização e de
interiorização, como uma espécie de respiração da alma que nuns momentos
interioriza e medita em Deus e noutros exprime, canta e reza a Deus. Do
silêncio misterioso de Deus vem a sua Palavra que ressoa no nosso coração.
Ainda dentro do Concílio Vaticano II vejamos o que este indica
aos fiéis, sacerdotes e bispos em relação à Eucaristia:
“[Os Bispos] São eles os ministros
originários da Confirmação, dispensadores das sagradas ordens e reguladores da
disciplina penitencial, e com solicitude exortam e instruem o seu povo para que
participe com fé e reverência na Liturgia, principalmente no santo sacrifício
da missa.”
“É próprio do sacerdote aperfeiçoar, com o sacrifício
eucarístico, a edificação do corpo, cumprindo assim a palavra de Deus,
anunciada pelo profeta: «do Oriente até ao Ocidente grande é o meu nome entre
as gentes, e em todos os lugares é sacrificada e oferecida ao meu nome uma
oblação pura» (Mal. 1,11)”,
“É pelo ministério dos presbíteros que
o sacrifício espiritual dos fiéis se consuma em união com o sacrifício de
Cristo, mediador único, que é oferecido na Eucaristia de modo incruento e
sacramental pelas mãos deles, em nome de toda a Igreja, até quando o mesmo
Senhor vier.”
“Esta caridade pastoral flui
sobretudo do sacrifício eucarístico, que permanece o centro e a raiz de toda a
vida do presbítero, de tal maneira que aquilo que se realiza sobre a ara do
sacrifício, isso mesmo procura realizar em si a alma sacerdotal. Isto, porém,
só se pode obter, na medida em que, pela oração, os sacerdotes penetram cada
vez mais profundamente no mistério de Cristo.”
“[Os fiéis] pela participação no sacrifício eucarístico de
Cristo, fonte e centro de toda a vida cristã, oferecem a Deus a vítima divina e
a si mesmos juntamente com ela”.
Aqui vemos a beleza que o Concílio Vaticano II nos ensina
sobre a ligação que a Eucaristia realiza entre os diferentes ministérios. Temos
o Bispo que exorta e ensina o seu povo para que participe com fé e reverência
na Liturgia, principalmente no Santo Sacrifício da Missa. Temos os sacerdotes
que pelo oferecimento do Santo Sacrifício edificam o Corpo Místico de Cristo,
ajudam os fiéis a oferecerem-se e crescem eles mesmos na união com Cristo.
Temos por fim os fiéis que participando do Santo Sacrifício, que é a fonte e
centro da vida cristã, vão crescendo em santidade e tornando-se semelhantes a
Cristo.
Conclusão, com Maria nossa Mãe do Céu
Como conclusão inspirando-nos em Maria, nossa Mãe do Céu,
vamos resumir o que aprendemos.
Deus revelou ao Homem a Verdade pelo Seu Filho Jesus Cristo,
único Caminho, Verdade e Vida que leva-nos até Deus.
Com a morte de Jesus na Cruz oferecida a Deus para a
redenção dos Homens a Humanidade reconciliou-se com Deus.
Assim, a cada Homem Deus oferece e pergunta se queremos
seguir o caminho de salvação.
Digamos sim a Deus com a confiança e convicção de Maria: «Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra».
Com «Maria cheia de graça, o Senhor
é convosco» temos o exemplo do caminho de salvação seguindo Jesus
Cristo: é realizado cooperando com a Graça de Deus e em união com Deus.
O Nosso Divino Salvador deu-nos o Seu Corpo e Sangue e o Seu
Sacrifício como testamento para tornarmos presentes em cada Santa Missa em
oferta a Deus para a nossa santificação e salvação. Perante tamanha
generosidade de um Deus que nos chama e ajuda à salvação coloquemo-nos em cada
Santa Missa dizendo como Maria: “A minha alma glorifica
o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos
na humildade da sua serva”.
E como aos pés de Cristo na Cruz estava Maria Sua Mãe também
nós nos colocamos em cada Santa Missa com a mesma confiança e esperança em
Deus, ao mesmo tempo que recordamos as palavras do Senhor: “Jesus ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava,
disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois, disse ao discípulo: «Eis a tua
mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua.”.
Nesta oferta que fazemos unidos a Cristo na Cruz coloquemos
a alma pronta a receber as graças de Deus dizendo como Maria: “O Todo-poderoso fez em mim maravilhas. Santo é o seu nome. A
sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem. Acolheu
a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a
nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre.”
Ao comungarmos lembremo-nos que é o Corpo do Senhor que
recebemos na Hóstia Sagrada, não apenas simbolicamente mas presente realmente e
nessa comunhão deve ressoar em nós as palavras «Fazei
tudo o que Ele vos disser».
Por fim não esqueçamos que a igreja é a casa de Deus e nela
no Sacrário está Nosso Senhor presente como outrora esteve presente no primeiro
Sacrário: “Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se à pressa
para a montanha, a uma cidade da Judeia. Entrou em casa de Zacarias e saudou
Isabel. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, o menino saltou-lhe de alegria
no seio e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.”, é este encontro que
podemos ter de cada vez que visitarmos Nosso Senhor no Sacrário, ali com Ele
podemos falar, alegrarmo-nos, chorar e escutar o que tem para nos dizer.
Podemos ir com confiança junto de Nosso Senhor pois Ele ali cumpre
o que nos prometeu: “Eu estarei sempre convosco até ao
fim dos tempos”.
Penso que reúne neste texto um conjunto de informações essenciais sobre a Santa Missa. Considero-o particularmente útil ao nível de alguns pormenores abordados porque os vejo como um excelente ponto de partida pessoal para uma maior meditação e entrega durante as celebrações eucarísticas.
ResponderEliminarComo eu dizia há dias em conversa, as pessoas passaram a perceber o que se diz na Missa mas deixaram de perceber o que é a Missa.
Obrigado Basto por ler e comentar, o objectivo principal é mesmo esse, encontrar e perceber o essencial para que cada um possa depois ir entrando mais profundamente no valor da Santa Missa.
ResponderEliminarÉ bem verdade, ouve-se mas não se escuta e quanto ao Santo Sacrifício e à presença real na Hóstia Sagrada olha-se e não se vê.
Vamos levar a sua postagem aos bocadinhos na esperança de que dia a dia seja mais fácil ler e refletir!?
ResponderEliminarObrigada por partilhar, obrigada por ter passado pelo nosso blogue e deixado um comentário que nos trouxe até aqui.
Paz e Bem Aleluia!
Obrigado por partilharem, espero que dê bons frutos e ajude as pessoas a aproximarem-se de Deus.
Eliminar