quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele

Na primeira carta do Apóstolo São João temos a bela e conhecida definição: "Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele." (1 João 4, 16). O maior atributo de Deus é sem dúvida o amor, Deus que é perfeito e não tendo nenhuma necessidade de nós, por puro amor, criou-nos e enviou ao mundo o Seu Filho para que possamos viver na vida de Deus.
Explica assim São João:
"E o amor de Deus manifestou-se desta forma no meio de nós:
Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que, por Ele, tenhamos a vida.
É nisto que está o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele mesmo que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados.(1 João 4, 9-10).


Como é este permanecer no amor?
O permanecer no amor começa por conhecermos e reconhecermos Deus: "Aquele que não ama não chegou a conhecer a Deus, pois Deus é amor." (1 João 4, 8). "Deus é luz e nele não há nenhuma espécie de trevas. Se dizemos que temos comunhão com Ele, mas caminhamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade. Pelo contrário, se caminhamos na luz, como Ele, que está na luz, então temos comunhão uns com os outros e o sangue do seu Filho Jesus purifica-nos de todo o pecado." (1 João 1, 5-7). Deus é amor, luz e perfeição.

O permanecer no amor realiza-se na comunhão com Deus por meio de Cristo:"este é o testemunho: Deus deu-nos a vida eterna, e esta vida está no seu Filho. Quem tem o Filho de Deus tem a vida; quem não tem o Filho também não tem a vida." (1 João 5, 11-12). Tal como Cristo o amor realiza-se colocando a nossa vontade na vontade de Deus: "Sabemos que o conhecemos por isto: se guardamos os seus mandamentos. Quem diz: «Eu conheço-o», mas não guarda os seus mandamentos é um mentiroso e a verdade não está nele; ao passo que quem guarda a sua palavra, nesse é que o amor de Deus é verdadeiramente perfeito; por isto reconhecemos que estamos nele. Quem diz que permanece em Deus também deve caminhar como Ele caminhou." (1 João 2, 3-6).

O permanecer no amor realiza-se como Cristo ama, "Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo nasceu de Deus; e todo aquele que ama quem o gerou ama também quem por Ele foi gerado.
É por isto que reconhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e cumprimos os seus mandamentos; pois o amor de Deus consiste precisamente em que guardemos os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são uma carga, porque todo aquele que nasceu de Deus vence o mundo. E este é o poder vitorioso que venceu o mundo: a nossa fé. E quem é que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é Filho de Deus?" (1 João 5, 1-5)

O novo mandamento do amor que Cristo nos deu consiste em amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos, ser Hóstia Imaculada oferecida a Deus ao serviço do próximo:
"«Assim como o Pai me tem amor, assim Eu vos amo a vós. Permanecei no meu amor.
Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu, que tenho guardado os mandamentos do meu Pai, também permaneço no seu amor.
Manifestei-vos estas coisas, para que esteja em vós a minha alegria, e a vossa alegria seja completa.

É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei.
Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos.
Vós sois meus amigos, se fizerdes o que Eu vos mando.
Já não vos chamo servos, visto que um servo não está ao corrente do que faz o seu senhor;
mas a vós chamei-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi ao meu Pai.

Não fostes vós que me escolhes-tes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos destinei a ir e a dar fruto,
e fruto que permaneça; e assim, tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome Ele vo-lo concederá.
É isto o que vos mando: que vos ameis uns aos outros.»" (João 15, 9-16).


O permanecer no amor implica abandonar a lógica do mundo para abraçar a lógica de Deus
Não ameis o mundo nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o estilo de vida orgulhoso - não vem do Pai, mas sim do mundo. Ora, o mundo passa e também as suas concupiscências, mas quem faz a vontade de Deus permanece para sempre." (1 João 2, 15-17).

Como vimos no início, Deus é santo e para termos comunhão com Deus temos de abandonar o pecado pois "Que união pode haver entre a justiça e a impiedade ou que há de comum entre a luz e as trevas?" (2 Cor 6, 14), "Porque nós somos o templo do Deus vivo, como o mesmo Deus disse: Habitarei e andarei no meio deles, Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo." (2 Cor 6, 16).

A partir do pecado original o mundo tornou-se pecaminoso, sendo necessário pelo baptismo renascermos para a nova vida em Deus, por isso permanecer no amor é abandonar o pecado "Nós bem sabemos que todo aquele que nasceu de Deus não peca, mas o Filho de Deus o guarda, e o Maligno não o apanha. E bem sabemos que somos de Deus, ao passo que o mundo inteiro está sob o poder do Maligno. Bem sabemos também que o Filho de Deus veio e nos deu entendimento para conhecermos o Verdadeiro; e nós estamos no Verdadeiro, no seu Filho, Jesus Cristo. Este é o Verdadeiro, é Deus e é vida eterna. Meus filhinhos, guardai-vos dos ídolos." (1 João 5, 18-21).

Este abandonar o mundo, que foi e continua a ser um elemento essencial da vida monástica, de maneira nenhuma deve ser interpretada como um subterfúgio, uma manobra, ou um pretexto para evitar dificuldades, ou para esquivar-se de obrigações. É abandonar o mundo no sentido de recusar tudo o que este mundo ama e tudo o que há nele, amando a Deus e ao proxímo santificando o mundo.


Podemos errar e tornar o amor num falso ídolo?
A maior astúcia do Maligno é usar o maior atributo de Deus para nos afastar de Cristo e assim nos afastarmos de Deus. Desta forma a resposta à questão é sim, a sedução do Maligno pode-nos levar a considerar o Amor como sendo Deus, tornando tudo fácil e belo à maneira humana, vamos ver como.

Deus é Amor mas o amor não é Deus. Deus é um Ser concreto e real, é a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo em perfeita comunhão. Não é um sentimento, não se pode amar a Deus sem amar a Santíssima Trindade e reconhecer Cristo como Filho de Deus.

O Amor como vimos não é qualquer espécie de amor, é um amor concreto: realizar a vontade de Deus, amando como Cristo, a Deus e ao próximo numa entrega total. O Maligno seduz-nos para termos obras sem Fé, que o que importa é sermos bons, promovermos a paz, fraternidade e solidariedade, criar um mundo melhor, mas Cristo pediu-nos para sermos "perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste" (Mateus 5, 48), temos de praticar a Caridade amando o próximo em Deus, amando e fazendo bem aos inimigos, santificando o mundo, reinando Cristo em nós. O mundo melhor será uma consequência da verdadeira Caridade, da instauração de tudo em Cristo e de termos em nós a paz de Cristo.

A sedução do amor como ídolo pode-nos levar ao facilitismo e à relativização, pode-nos parecer belo considerar que qualquer religião pode ser uma expressão de amor a Deus, no entanto, na prática isto é negar Cristo como Filho de Deus e negar a existência da Santíssima Trindade. Podemos ver o que de bom as religiões possam ter mas como caminho para chegar à Verdade e não como uma possibilidade da Verdade. O Maligno seduz-nos com a facilidade e beleza de vários caminhos, mas isso é abandonar Cristo que diz "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim." (João 14, 6).

A sedução do amor como ídolo pode-nos levar a relativizar o cumprimento dos mandamentos, pois com o nosso olhar humano pensamos que Deus ama incondicionalmente, com misericórdia infinita. Como vimos acima permanecer no amor implica cumprir a Vontade de Deus, guardar os Seus mandamentos. Isto no olhar humano parece uma exigência, regras e condições que são colocadas ao amor de Deus, no entanto segunda a lógica de Deus o cumprimento da Vontade e mandamentos são obra da misericórdia de Deus, pois são os meios e ajuda para permanecermos na Graça de Deus. Sem esta ajuda estariamos irremediávelmente afastados de Deus, assim Deus dá-nos os meios e mostra-nos o caminho para podermos chegar até Ele, o Maligno seduz-nos para a lógica humana para nos afastar do caminho.

A sedução do amor como ídolo pode-nos relativizar o caminho, tornado amplo o que Cristo indicou que é estreito. O Maligno seduz-nos indicando que não podemos colocar limites à misericórdia de Deus, ajudando a perdermos a noção do pecado, no entanto Cristo diversas vezes nos lembra para estarmos atentos e vigiar. É uma sedução que nos é feita como a que Cristo recebeu no deserto: "Então, o diabo conduziu-o à cidade santa e, colocando-o sobre o pináculo do templo, disse-lhe: «Se Tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: Dará a teu respeito ordens aos seus anjos; eles suster-te-ão nas suas mãos para que os teus pés não se firam nalguma pedra.» Disse-lhe Jesus: «Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus!»" (Mateus 4, 5-7). Ignorando a noção de pecado, indiferentes a Deus e dizendo que mesmo assim a misericórdia de Deus salva está perto de tentar a Deus.


Conclusão
Deus é amor e permanecendo no amor permanecemos em Deus e Deus em nós.
Esse amor é amar como Cristo: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos.
Implica sermos Hóstias Imaculadas oferecidas a Deus para o serviço, santificação e salvação do próximo.
Implica "que todos os homens venham aconhecer o único Deus verdadeiro e o Seu enviado, Jesus Cristo, e se convertam dos seus caminhos pela penitência" (Sacrosanctum concilium 9).
É reconhecer a Verdade revelada por Deus: existe um único Deus, Santíssima Trindade e existe um único caminho, Jesus Cristo, verdadeiro Filho de Deus.
Implica abandonar o pecado, a lógica e seduções do mundo para cumprirmos a Vontade de Deus, cumprindo os Seus mandamentos.
Implica estarmos atentos às seduções do Maligno, evitando os facilitismos e relativizações da Verdade revelada.
Implica procurar "que em vós permaneça o que ouvistes desde o princípio. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também vós permanecereis no Filho e no Pai. E esta é a promessa que Ele nos fez: a vida eterna." (1 João 2, 24-25).



"Vede que amor tão grande o Pai nos concedeu, a ponto de nos podermos chamar filhos de Deus; e, realmente, o somos! É por isso que o mundo não nos conhece, uma vez que o não conheceu a Ele. Caríssimos, agora já somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. O que sabemos é que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é.

Todo o que tem esta esperança em Deus, torna-se puro, como Ele, que é puro. Todo o que comete o pecado comete a iniquidade, pois o pecado é, de facto, a iniquidade. E bem sabeis que Ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não há pecado. Todo aquele que permanece em Deus não se entrega ao pecado; e todo aquele que se entrega ao pecado não o viu nem o conheceu.

Filhinhos meus, que ninguém vos engane. Quem pratica a justiça é justo, como Ele, que é justo. Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde a origem. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque um germe divino permanece nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus.

Nisto é que se distinguem os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo aquele que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama o seu irmão." (1 João 3, 1-10).

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