quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Cristo é a luz no oriente litúrgico

Outrora as igrejas orientavam-se para o leste. Entrava-se no edifício sagrado por uma porta aberta para o ocidente e, caminhando pela nave, dirigia-se rumo ao oriente. Era um símbolo importante para o homem antigo, uma alegoria que ao longo da história decaiu progressivamente.

Nós, homens da época moderna, muito menos habituados a captar os grandes sinais do cosmos, quase nunca nos damos conta de um pormenor deste tipo. O ocidente é o ponto cardeal do pôr do sol, onde a luz desfalece. O oriente, ao contrário, é o lugar onde as trevas são vencidas pela primeira luz da aurora, evocando-nos Cristo, Sol que surgiu do alto no horizonte do mundo (cf. Lc 1, 78).

Os antigos ritos do Batismo previam que os catecúmenos emitissem a primeira parte da sua profissão de fé, com o olhar voltado para o ocidente. E naquela postura, eram interrogados: “Renunciais a Satanás, ao seu serviço e às suas obras?” — E os futuros cristãos repetiam em coro: “Renuncio!”. Depois, iam rumo à abside, na direção do oriente, onde nasce a luz, e os candidatos ao Batismo eram novamente interrogados: “Acreditais em Deus Pai, Filho e Espírito Santo?”. E desta vez, respondiam: “Creio!”.
Nos tempos modernos perdeu-se parcialmente o fascínio deste rito: perdemos a sensibilidade à linguagem do cosmos. Naturalmente, permaneceu-nos a profissão de fé, feita segundo a interrogação batismal, que é própria da celebração de alguns sacramentos. Contudo, ela conserva-se intacta no seu significado. O que quer dizer ser cristão? Significa olhar para a luz, continuar a fazer a profissão de fé na luz, enquanto o mundo estiver envolvido pela noite e pelas trevas.

Os cristãos não estão isentos das trevas, externas e inclusive internas. Não vivem fora do mundo, mas pela graça de Cristo, recebida no Batismo, são homens e mulheres “orientados”: não acreditam na escuridão, mas na luminosidade do dia; não sucumbem à noite, mas esperam na aurora; não são derrotados pela morte, mas anseiam por ressuscitar; não são vencidos pelo mal, porque confiam sempre nas possibilidades infinitas do bem.
E esta é a nossa esperança cristã. A luz de Jesus, a salvação que nos traz Jesus com a sua luz que nos salva das trevas.

Papa Francisco, Audiência Geral 2 de Agosto de 2017

Audiência em: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/2017/documents/papa-francesco_20170802_udienza-generale.html

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